
Repensar o mercado da saúde privada em Angola cenário actual e desafios futuros. Foi o tema abordado durante o workshop que juntou especialistas de várias na área da saúde nesta terça-feira em Luanda.
Várias são as implicações em torno do elevado custo do atendimento de saúde nas clínicas privadas, como fez saber Aurora Lopes, medica fisioterapeuta, “encarecer, claro que tem as suas implicações, mas nós tentamos que o input do preço não seja colocado só no cliente, mas não podemos olhar só à parte dos aparelhos, portanto, nós temos toda uma estrutura que é necessário manter.”
Temos uma equipa, não muito grande, mas já com alguns elementos.
Temos as necessidades de internet, de água, de luz, portanto, essas coisas todas entram para o custo da clínica. Portanto, claro que temos que também pôr um bocadinho do valor no preço final da sessão, mas tentamos que não seja exagerado. Pronto, também como nós não estamos muito ligados à área das seguradoras, portanto, tentamos manter ali um equilíbrio de custo-benefício correto. Cada vez mais os recursos humanos em Angola estão mais capacitados. Além da formação de base estar, portanto, a melhorar, consideravelmente. E têm havido várias empresas e instituições que estão a focar também na formação contínua dos profissionais.
O nosso foco, portanto, é grande o mercado. São ainda poucas clínicas privadas, e a população é muita. Não falando só também da parte do público, que infelizmente, portanto, não conseguem dar resposta a todas as necessidades que têm.
Portanto, na área privada, a fisioterapia ainda é um bom negócio, se lhe podemos chamar assim. Nós não gostamos muito dessa palavra, mas claro que todos os investimentos têm o seu lado financeiro, portanto, temos sempre que aliar as duas coisas.”
é uma questão dos recursos humanos, portanto, a importação dos produtos, dos materiais que são necessários como todas as clínicas têm necessidades, e isso são os grandes desafios.
Sem falar, às vezes, das questões burocráticas que se levantam, portanto, na implementação e da estruturação da própria clínica. Portanto, é questões de inconformidade com a legislação, alguns documentos mais complicados de se conseguir, mas pronto, nós estamos cá, estamos na luta, vamos continuar a abraçar este projeto, que espero que seja por muito tempo. Nós temos aparelhos que são necessários para a área de arrebatação, que têm custos elevados e não existem cá no mercado nacional, portanto, têm que ser todos importados.

Aurora Lopes avançou ainda que os custos dos aparelhos rodam sempre entre os 3 milhões, a 10 milhões, a 15 milhões, portanto, são tudo necessidades que uma clínica de fisioterapia tem. Além dos aparelhos, tem as marquesas, tem os consumíveis, que felizmente já se vão encontrando cá, portanto, menos uma preocupação para nós, mas pronto, em termos de aparelhos de ponta, tecnologias de ponta, ainda há uma necessidade de recorrer ao mercado exterior.
José Cunha presidente da associação Angolana das clínicas privadas em Angola, avançou que o pretendiam era fazer uma análise da saúde privada em Angola. E foi exatamente isso que foi feito, com a contribuição de várias clínicas e vários gestores.
A situação não é fácil, e não é fácil exatamente porque o contexto socioeconômico, neste momento, é muito fluido. De maneiras que as clínicas, ou grande parte das clínicas, vivem uma situação mais ou menos difícil, devido à inflação, como é do conhecimento, vamos tendo constantemente o preço dos materiais e dos medicamentos a subir e de maneiras que isso implica naturalmente também uma subida dos preços dos atos que são praticados pelas clínicas. Esta situação, em certa medida, não é muito compreendida, às vezes, pelas seguradoras.

Há ainda muitas informações em relação à questão do atendimento. Se vão para uma clínica, de repente, o atendimento seguro não tem contato e lhes é negado o atendimento. E também há muita informação em relação aos preços, porque acabam por, muitas vezes, pagar 75 mil kz, em uma consulta de oftalmologia, por exemplo. Agora, em relação aos preços, eu praticamente já fiz referência, os preços vão subindo naturalmente com base na inflação, porque as clínicas, de alguma geral, adquirem os materiais através da importação.
José Cunha realçou ainda que, em Angola, praticamente, não se produz medicamentos nem material gastável hospitalar, de maneira que os preços, à medida que vão subindo, naturalmente as clínicas também terão que fazer essa subida de preços.
Esta situação é que, muitas vezes, coloca o cliente da clínica numa situação de insatisfação, mas que tem toda a sua explicação e é compreendida, tendo em conta o contexto socioeconómico que nós vivemos. O caminho, eu acho que esse é o único, portanto, se o preço sobe do produto, naturalmente, nós que somos fornecedores posteriores desse mesmo produto, naturalmente também teremos que subir o preço.
Geralmente a inflação é algo que tem que ser visto a nível central, portanto não poderá ser visto, nem da associação das clínicas, nem de uma única clínica em si, mas é um problema do país e nós teremos que resolver esse problema a nível da economia do país. É e será sempre, porque o número de médicos, de enfermeiros, de técnicos de diagnóstico e terapêuticos que nós temos no nosso país é extremamente insuficiente para as necessidades que a nossa população tem.
De maneiras que as clínicas privadas vivem esse problema e por isso é que estão a preferir ter mais funcionários em regime de efetividade ou efetivos do que propriamente os colaboradores ou prestadores de serviços porque com os efetivos consegue-se lidar de uma melhor maneira e obrigar, entre aspas, a cumprir com aquilo que está regulamentado. Com os colaboradores ou os prestadores já a coisa fica mais difícil. Em Angola temos um Serviço Nacional de Saúde e o Serviço Nacional de Saúde permite naturalmente que o técnico profissional de saúde possa trabalhar simultaneamente em entidades públicas e privadas.
Edgar Santos especialista em saúde, ressaltou que,” primeiro é a questão do que de valor nós realmente entregamos para o paciente. Sabemos que o paciente, quando ele procura uma assistência médica privada, ele procura um serviço de qualidade e que tenha um custo minimamente acessível. Então é tentar equacionar esses dois elementos para que a equação se mantenha equilibrada e o mercado continue em crescimento sustentável.

Bem, nesse momento, devido a alguns fatores inerentes do cenário econômico mundial, macroeconômico, microeconômico e da economia doméstica tem sido um grande esforço por parte de todos que fazem parte desse mercado manter o custo acessível. Porém, nota-se um aumento gradual no custo dos serviços de saúde na rede privada.
Edgar Santos esclareceu ainda dos relatos conflituosos entre as clínicas e as seguradoras. Não podendo olhar propriamente como um conflito. “São visões muito diferentes, às vezes, divergências mercadológicas.” É um fenômeno que no mundo inteiro acontece, mas volto a dizer, só será resolvido se todos sentarem numa sala e tiverem uma conversa muito franca e direta a respeito das suas percepções, das suas dificuldades, para que se encontrem pontos de congruência e que se ache uma solução para um crescimento sustentável.
Se as partes continuarem distanciadas, em algum momento irá colapsar esse mercado. Em Angola, também há casas de clínicas que se recusam a prestar os primeiros socorros a pacientes que eventualmente tenham o plafom do seguro terminado.
Ao ponto de vista legal, existem critérios e regras definidas e lei específicas para isso. Cada prestador sabe como utilizá-las e aplicá-las. Mas também acredito que esse risco partilhado deve ser comum, tanto a entidade pagadora, a fonte pagadora, quer seja a seguradora ou quem quer que seja que esteja financiando o seguro, junto com o prestador.
E entende que o grande desafio neste momento é colocar todos que participam desta cadeia em conversa, reunidos na mesma sala, de maneiras que seja encontrada uma solução que todos ganham.
Texto: Jorgina Manuela
Foto: Afonso Francisco