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O Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário de Angola na República Federal da Nigéria defende relações mais fluídas, constantes e com escolhas inteligentes para voltar a cimentar a cooperação entre os dois países. Falando à Revista Exclusivo, o diplomata quer relações políticas e económicas mais dinâmicas e agressivas explorando o grande potencial em estado de latência entre os pares. A reunião da Comissão Mista Bilateral de Setembro pode impulsionar este desejo.

Embaixador Extraordinário, José Bamóquina Zau

José Bamóquina Zau, realça o grande papel das relações bilaterais entre Angola e Nigéria, no âmbito da cooperação diplomática e comercial. Ele anunciou para o mês de setembro a realização em Luanda da reunião da Comissão Mista Bilateral para actualizar os instrumentos jurídicos que norteiam a cooperação entre os dois países. “O objectivo é avaliar os níveis dos acordos que já foram discutidos ao longo dos anos, mas que nunca foram materializados nem assinados e também tratar dos nossos desafios regionais. No contexto global queremos analisar e introduzir novas áreas de cooperação mutuamente vantajosas”, disse. Explicou que no domínio económico o sector empresarial tem crescido consideravelmente, através de encontros e fóruns empresárias entre Angola e Nigéria, fortalecendo assim os laços de cooperação. “Fomos orientados ao mais alto nível do poder executivo para passar em revista os instrumentos jurídicos existentes, criar mecanismos mais eficazes, mais céleres no tratamento dos pedidos dos empresários e criar mecanismos de realização de fóruns empresariais e não só”, sustentou.

Em 2023 a Embaixada de Angola na Nigéria realizou o 1º Fórum Diplomático-empresarial para impulsionar negócios éticos e sustentáveis que reuniu em Abuja a elite da indústria do petróleo e gás, da banca e seguros, do agro-negócios, da aviação e de minas. O Ministério das Relações Exteriores, enviou o secretário de Estado para a Cooperação Domingos Vieira Lopes para abrir o evento e ter uma sequência de interacções com todos os convidados. Na sequência deste fórum, segundo o embaixador, nasceu o Conselho Empresarial Angola-Nigéria (ANBC-siglo em inglês) que é uma instituição para congregar empresários, aconselhar os melhores caminhos e práticas para impulsionar negócios éticos e explorar vontades de investir no mercado angolano. “É, na base disso e por orientação do Ministro Téte António, criamos um mecanismo de aceleração de tratamento de pedidos de vistos ou de emissão de vistos privilegiados. Hoje, sem dúvidas, a Missão Diplomática de Angola na Nigéria, quer através dos seus postos consulares em Lagos, Abuja ou em Port-Harcourt, tem dado um tratamento célere aos pedidos sobretudo para investidores”, reforçou o embaixador Bamóquina Zau.

Esta experiência de 2023 inspirou a realização no ano seguinte do 2º Fórum Empresarial sob alto patrocínio do ex-Presidente Olusegun Obasanjo na cidade de Lagos e os resultados foram largamente satisfatórios. Investidores disponíveis e nos dois fóruns empresariais a Marca Angola foi bem aceite pela elite nigeriana, a Embaixada e o Conselho Empresarial não cruzaram os braços e decidiram levar os investidores ao terreno para constatar a realidade. Na mesa estiveram interesses nos segmentos de energias limpas como hidrogénio verde, refinarias de petróleo, abertura de sucursais de bancos, construção de infra-estruturas logísticas e de apoio ao novo aeroporto internacional do Icolo e Bengo, bem como a sua implantação na Zona Económica Especial – ZEE e na Zona Franca da Barra do Dande – ZFBD.Na primeira quinzena de Novembro de 2024, a Embaixada trouxe a Luanda dois magnatas nigerianos que foram recebidos em audiência pelo Presidente João Lourenço. O primeiro foi Toni Elumelu, presidente do Grupo Heigh, detentora do Banco Pan-africano UBA e depois Aliko Dangote, o homem mais rico de África, proprietário de refinarias de petróleo, açucar e fábricas de cimentos para explorar oportunidades de investimentos no quadro da Diplomacia Económica e de Investimentos do Titular do Poder Executivo.“Precisamos acelerar as nossas decisões para facilitar a captação de investimentos como forma de maximizar os lucros e benefícios”, disse o Embaixador de Angola para quem os nigerianos estão totalmente disponíveis e o apoio da AIPEX, enquanto porta de entrada de investimentos privados, tem sido primordial.

José Bamóquina Zau sublinhou que do lado da Nigéria existem investidores com capitais próprios que querem fazer investimentos directos e a obrigação das entidades angolanas é abrir caminhos seguros para fluir os seus interesses empresariais.”O Access Bank do falecido investidor Herbert Wigwe já entrou e posicionou-se bem no mercado angolano. Outras dezenas de empresas e investidores de alto calibre estão interessados e a nossa missão é viabilizar os seus investimentos”, reforçou. Rapidez nas decisões Em março deste ano o TPE enviou a Nigéria uma missão multissectorial dirigida pelo Ministro do Comércio, Rui de Oliveira Minguês e que integrou o Ministro da Agricultura e Florestas, Isaac Maria dos Anjos, o Secretário de Estado do MIREMPET, José Barroso, Administradores e Directores da Sonangol, ANPG, IRDP e IDA. A missão multissectorial do Governo explorou oportunidades de negócios e projecção de Parcerias Público-Privadas com o Grupo Dangote. Na mesa estiveram discussões à volta de propostas de entrada do Grupo Dangote no mercado angolano com aquisição directa de petróleo bruto, participações em campos petrolíferos maduros, venda de derivados de petróleo, gestão de refinarias de petróleo, bem com a transferência de know how especializado para projectos da indústria petro-química.“Quando falamos de investimentos directos, estamos a pedir maior abertura na exploração das agro-indústrias, cimenteiras, hidrocarbonetos e na transposição das experiencias da Nigéria no Conteúdo Local que é um segmento da cadeia de capacitação dos Recursos Humanos, criação de riqueza e de milionários nacionais”, enfatizou Zau.

De acordo com o diplomata, a segunda fase das negociações será realizada em Luanda, e espera que venham a ser assinados Memorandos de Entendimentos sobretudo para o fomento agrícola. Ele ressaltou que a banana do Bengo pode ser um dos maiores produtos a ser exportado para Nigéria e no sentido contrário o fornecimento de clinker para a produção de cimento, fertilizantes e polipropileno para cobrir o défice do mercado angolano. Muito dinheiro capitalizado “É necessário explorar mais o mercado nigeriano para que haja mais engajamento de empresários”, defendeu Zau.

O Embaixador realça o grande papel das Câmaras de Negócios na sua actuação em relação ao excesso de capitais nos bancos da África Ocidental que podem galvanizar os investimentos para a economia angolana. “É muito dinheiro capitalizado e adormecido na Banca”, advertiu. Ele pediu proactividade das instituições e dos empresários explicando que Angola é dos países mais estáveis e seguros da África Austral onde se pode investir com liberdade em todos os sectores da vida económica. Zau recorreu ao PDN que apresenta interessantes linhas orientadoras do Executivo para os desafios económicos à médio e longo prazos nos domínios da agro-indústria, fertilizantes, sistema logístico e outros itens cujas experiências da Nigéria e do Benin podem ser replicados em Angola e a baixou custo. Concluiu apelando a necessidade do reforço das frequências dos voos da Taag para cidades como Abuja e Port-harcourt (Nigéria) e Cotonou (Benin) para drenar centenas de passageiros em trânsito para diversas cidades da América do Sul.

PERFIL

José Bamóquina Zau é natural de Cabinda, casado com Carolina Zau e tem um agregado de cinco filhos. É filho de Daniel Bamóquina Zau e Josefina Zau, ambos naturais de Miconje. Formou-se em Direito. É Professor e quadro do Ministério do Interior na classe de Oficial Comissário. Desempenha actualmente a função de Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário de Angola na República Federal da Nigéria, Benin, Níger e representante permanente na Comunidade Económica de Desenvolvimento dos Estados da África Ocidental – CEDEAO.

No seu perfil académico sobressai um mestrado em Direito Privado pela Faculdade de Direito da Universidade Marien Ngouabi em Brazzaville (1998); uma Licenciatura em Direito nas áreas Jurídico-Político-Económico (1996); Graduado na Academia Israelense de Segurança e Investigações em 2015 e titular de um diploma de bacaloureat em letras e línguas modernas, obtido no Liceu Vladmir Lénine em Dolisie. Foi Vice-Ministro do Interior de 2007 a 2012; Secretário de Estado do Ministério do Interior de 2012 a 2022 e Deputado à Assembleia Nacional eleito na Legislatura 2017-2022 pelo Círculo Nacional do MPLA.Fala Português, Francês, Inglês e alguns Idiomas africanos da Região Central.Como corolário do seu percurso político e diplomático, José Bamóquina Zau recebeu do Presidente da República, João Manuel Gonçalves Lourenço, a medalha de ouro da condecoração do Jubileu dos 50 anos de independência de Angola, no dia três de julho.

Texto: Jorgina Manuela

Foto: Rogério Mpaka

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